Morador mais antigo do bairro Eldorado é homenageado em arraial junino.

Aos 81 anos, Seu Pedoca é apaixonado por forró e não esqueceu qual a receita de uma boa festa de São João.

Por Ranjelio 25/06/2022 - 14:22 hs
Foto: Ranjelio / Portal Arapiraca

Uma história de mais de 60 anos no bairro Eldorado voltou a dar nome ao Arraiá da comunidade, dois anos após a interrupção das festas por conta da pandemia da Covid-19. Pedro Rodrigues da Silva é o “Seu Pedoca”, que não gosta nada de ficar parado e celebra a vida ao lado dos vizinhos e familiares.

Com o chapéu de palha na cabeça, o idoso de 81 anos se balança pra lá e pra cá em torno da festa que leva seu nome. Seu Pedoca é arapiraquense de coração e forró no pé, mas nasceu na Paraíba e morou em Pernambuco, na cidade de Pesqueira, antes de desembarcar em Alagoas.

Veio para a capital do fumo em 1959, e lembra como a Rua Marechal Hermes da Fonseca e a cidade, que nesta segunda-feira (20) sediu o festejo em sua homenagem, eram naquele tempo. “Aqui era roça, o povo morava na roça. Quando veio passar esse negócio aqui [calçamento] foi depois. Arapiraca era toda de terra”, conta, um tanto confuso por conta do Alzheimer que enfrenta, mas que em nada impediu sua vontade de conversar sobre a própria vida e os trabalhos que teve: 20 anos como pedreiro e mais 20 como sapateiro.

“Ele não lembra muito da gente. Chegamos aí, aí tem que explicar e depois de muito tempo é que ele vem lembrar. A doença tá começando a pegar mesmo”, diz Ana Carolina, 27 anos, neta do Pedoca. O idoso foi pai nove vezes, mas só cinco filhos estão vivos. Todos com C: Cleide, Cláudia, Claudete, Claudiomiro e Cláudio.

Guerreiro, venceu três acidentes vasculares cerebrais (AVCs) durante a pandemia. Nada mais justo que comemorar a existência do forrozeiro. O Arraial no bairro foi batizado com o nome do “Pedoca” há cerca de cinco antes do início da pandemia, e desde então a homenagem se mantém.

“É uma satisfação muito grande, principalmente pra mim que fui criada com eles”, conta Ana, que deixou a casa dos avós há cinco anos. “Meus pais praticamente são meu avô e minha avó. Toda festa que a gente faz, o dançarino é ele. Não para”, conta.

Érica Rodrigues, outra neta do Seu Pedoca, diz que celebrar a vida do avô é um grande incentivo para manter o “Arraiá do Pedoca”. “Todos os anos, a gente sempre faz, organiza, dá o máximo pra realizar esse evento pra ele mesmo”. O Arraiá conquistou o sétimo lugar na última disputa, mas isso em nada tira a alegria e vontade de fazer a festa, afinal, no bairro Eldorado, Seu Pedoca é o primeiro colocado.

Amor pela comunidade em todas as idades

A Rua onde a festa foi realizada é de muitos idosos, e uma das apresentações da noite não deixa negar. O grupo “Dança da Fita da Melhor Idade” mostrou que diversão e tradição não têm faixa etária. Animadas, elas vestem flores e calçam forró, distribuindo sorrisos, simpatia e alto astral por toda a rua, e na hora da dança, não perdem o ritmo enquanto são assistidas pela comunidade.

O “Arraiá do Pedoca” homenageia a morador mais antigo do bairro e que já passa dos 80, mas os mais novos não ficam para trás quando o assunto é vestir com orgulho o nome da vizinhança. Ricla Vitória tem 14 anos e desfilou pela primeira vez como a rainha do milho. A jovem é filha de Rildo, organizador do evento, e portou com maturidade a faixa da comunidade onde vive.

A noite de festa no Bairro Eldorado é um retrato da tradição. Lá, jovens, adultos e idosos se reúnem e festejam a época mais calorosa do ano para um nordestino. Tudo isso numa homenagem àquele que mostra como a idade e o esquecimento não são capazes de apagar o amor à grandeza do São João.

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