Nove vtimas do professor que assediou alunas contam como docente agia e denunciam diretora

Por Chrislayne 29/03/2022 - 15:15 hs
Foto: Reproduo
Nove vtimas do professor que assediou alunas contam como docente agia e denunciam diretora
Professor denunciado por assdio contra alunas em Arapiraca

Nove alunas que foram vítimas do professor denunciado por assédio em Arapiraca deram novos detalhes sobre a forma como o homem agia com exclusividade para o site Já é Notícia nesta segunda (28). Elas relatam também estar sofrendo com ameaças e denunciam a diretora da escola, que ameniza o crime em um áudio, afirmando que "todo mundo erra" (ouça o áudio no quinto parágrafo).

A reportagem não irá revelar os nomes das jovens que aparecem nesta matéria, apenas as idades.

O professor de português lecionava na Escola Padre Jefferson, localizada no bairro Guaribas. As alunas conseguiram tirar prints de comentários feitos pelo docente no Instagram, aonde ele chega a mandar a foto de um sutiã pequeno para uma estudante, fazendo referência ao tamanho dos seios dela.

Com 16 anos, uma adolescente contou que ele passava a mão em seu corpo sem consentimento e pedia fotos constantemente. "Ele (o professor) ficava passando a mão na minha nuca, passando a mão na minha cintura, passando a mão no meu cabelo, sendo que eu já tinha falado pra ele e pra todos da sala de aula que eu não gosto que fiquem pegando no meu cabelo. Ele também ficava puxando meu cabelo e me puxando pra trás quando puxava meu cabelo pra que eu ficasse "mais perto dele”. Ele ficava falando coisas em duplo sentido enquanto dava aula, respondendo os meus stories do Instagram quando eu postava alguma coisa (procurei as conversas, mas ele apagou o Instagram)", disse.

"Por mais que eu ignorasse, ele me deixava totalmente desconfortável em todos os sentidos, tanto dentro da sala de aula ou quando ele começava a responder meus stories do Instagram quando eu postava alguma foto. Ele também ficava acariciando meu rosto, falando da minha boca, tipo: “nossa, como sua boca e bem desenhada”, ficava me cobrando mais que o normal as atividades. Ele também já chegou até a falar que se estivesse precisando de nota pra passar de ano, mandasse uma foto pra ele que ele ajudava na nota", completa.

Uma outra aluna, também de 16 anos, denuncia o comportamento da diretora da escola no momento em que as vítimas se reuniram para pedir ajuda à direção da unidade de ensino. No áudio que você poderá escutar abaixo, a diretora questiona se é necessário tratar o homem como "uma pessoa de alta periculosidade" e afirma que ele "merece uma segunda chance".

 "Quando fomos denunciar lá na direção o professor assediador, a diretora teve a coragem de falar que o professor merecia uma “segunda chance” que tinha gente pior que ele que também merecia uma segunda chance, uma pessoa da direção chegou a falar que foi a primeira vez que aconteceu as denúncias contra esse professor, mas alunos que já estudaram lá anos e anos atrás já falaram que isso não acontece de hoje e que a escola sempre acobertou o professor, acho que por medo de manchar a imagem da escola. Também disse que o jeito que o professor tratava as alunas era uma forma de “carinho”. Na nota que a escola publicou no Instagram falaram tudo totalmente diferente do que fizeram quando nós alunas estávamos dentro da sala quando fomos fazer a denúncia, falaram que a direção composta por mulheres teria apoiado nós (alunas) quando fomos lá denunciar o professor", relata a estudante.

Apesar das denúncias recentes, o comportamento predatório do professor não aparenta ser mesmo "de agora". De acordo com uma das vítimas, de 16 anos, muito se escuta sobre outros casos que o envolvem, de até cinco anos atrás.

"Eu sou aluna da escola padre Jeferson de Carvalho há 4 anos, mais vim começar a ter aulas com esse professor ano retrasado, ele sempre entrava em assuntos desconfortáveis na sala de aula falando sobre o corpo das meninas, dizia que se a gente mandasse foto de calcinha e sutiã ele passaria a gente de ano. Uma vez ele passou a mão no meu rosto e pescoço, foi muito desconfortável já que nunca dei tal liberdade a ele e nunca tive intimidade, ele já chegou a passar a mão nos meus ombros, cabelo, cintura e minhas costas eu também já ouvi muitos relatos de garotas que já estudaram lá e disse que isso acontece desde 2017. Eu e minhas amigas sempre nos sentíamos desconfortáveis na aula dele já que ele sempre tinha que falar de nossos corpos", aponta a jovem.

Mais jovem que as outras estudantes assediadas, uma adolescente de 15 anos, foi surpreendida pelo professor em um ponto de ônibus, quando ele puxou assunto e chegou a apalpar as suas nádegas.

Nesse relato, assim como nos outros, o docente parecia não sentir medo de ser denunciado, repetindo o ato criminoso mais de uma vez.

"Então eu estava em um dia de aula normal, tivemos nossas aulas e depois fomos embora pro ponto esperar o escolar. Meu amigo que sempre anda comigo me deixou pra trás, então o professor puxou assunto comigo e eu respondi, do nada ele tocou no meu ombro passou a mão no meu cabelo e desceu até as costas e continuou baixando até chegar na minha bunda, aonde ele apertou. Eu saí de perto rápido porque eu fiquei com medo. Já tinha acontecido dele ficar passando a mão em mim outra vez mas nada nesse nível. Outra vez isso aconteceu em sala de aula mas antes de chegar até a minha bunda eu afastei ele e o olhei feio mas ele ficou calado".

Jeito carismático

A maneira como o professor agia na escola era uma forma que ele encontrava de tentar estar acima de qualquer suspeita. Entre os comentários que fazia, também tentava ser carismático, mas a repetição das palavras passava a incomodar, trazendo a tona suas reais intenções com o passar do tempo.

"Sou aluna da escola e jamais me colocaria numa situação dessa se não fosse algo que estive acontecendo com várias alunas da escola e já aconteceu comigo. O professor tem um jeito muito carismático, fala com todos sempre sorrindo e isso faz com que todos os alunos gostem dele pelo jeito dele, só que as vezes o carisma se torna algo que começa a incomodar. Já recebi vários comentário dele na internet em postagens que fazia tipo "Eita, que corpo bonito" ou "Mudou bastante", só que quando isso acontece uma vez a pessoa tenta relevar por achar que é um simples comentário qualquer. Só que isso já aconteceu umas 3/4 vezes dentro da própria escola. Ele chega dando bom dia, abraça, mexe no cabelo e fala: "Mudou bastante em! Olha pras pernas dela, cuidado pra não virar um homem com essa pernona" ou "Eita, como ela está bonita hoje". E tipo, isso se repetia e começou a incomodar principalmente o fato de estar tocando a pessoa, não era apenas um simples comentário ou elogio, a gente sabe que não era, a gente sente. Dentro da sala ele fazia brincadeiras desconfortáveis, que tinham duplo sentido e isso até todos da sala se incomodavam! Então são situações que não podem ficar impunes. Desde já agradeço por estarem dando voz a nós. E mais uma vez repito: A ESCOLA É PÚBLICA,MEU CORPO NÃO!”, diz uma vítima, de 17 anos.

Já uma aluna, que tem 16 anos, diz que existia o uso de apelidos impróprios por parte dele, a deixando sempre desconfortável. As falas da diretora da escola também a decepcionaram, pois esperava apoio em um momento tão difícil.

"Estudo na escola desde o ano passado e, o professor, apesar de não me conhecer, me chamava com apelido mesmo sabendo meu nome, como "coração". E não era nada carinhoso, pois eu não conhecia ele direito e eu me sentia muito desconfortável. Ele costumava fazer carinho na nuca, nas costas, abraço, mas sempre foi tudo muito forçado por não termos essa intimidade. Acariciava meu rosto e uma vez enquanto eu saia da escola e conversava com as minhas amigas ele apareceu do nada entrando no assunto e me abraçando, quando me virei me assustei por ser ele. Aquilo incomodava muito e continuou acontecendo... as aulas dele sempre iam para esse sentido era extremamente desconfortável para as meninas, porque a maioria das coisas era sobre o nosso corpo. A respeito da diretoria, ouvi frases como "todo mundo erra". Foi a pior sensação do mundo, porque esperávamos apoio delas como mulheres".

Outros relatos

Vítima de 15 anos: "Na hora da saída, quando eu saí o professor ficou puxando meu casaco para eu ir para trás ficar com ele, e ele sempre passava a mão nas minhas costas, no meu cabelo e acariciava meu rosto".

Vítima de 16 anos: "Já ocorreu diversas vezes comigo, porém não tinha forças contra um "professor", passava a mão em mim, no meu pescoço, nas minhas costas, já chegou a descer pro meu tronco próximo aos meus seios. Falava coisas sobre sexo em sua aula, já chegou a pedir fotos para as meninas que estivessem "com nota baixa" e vários outros relatos".

Outra vítima de 16 anos: "Ele falava pra gente seguir ele que ele tinha dicas de português e ele sempre seguia a gente de volta e com isso olhava tudo que a gente postava respondia e até comentava em aula".

Investigações

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informou que o professor foi afastado de suas funções no último dia 25, depois que denunciam foram formalizadas contra ele na Central de Polícia Civil de Arapiraca. Na ocasião, os envolvidos foram conduzidos posteriormente para uma delegacia para serem ouvidos.

Leia a nota da Seduc na íntegra:

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informa que está apurando o caso que envolve a acusação de assédio por parte de um professor da Escola Estadual Padre Jefferson Carvalho, de Arapiraca, a um grupo de alunas do ensino médio da unidade e informa que o servidor em questão foi automaticamente afastado da escola de suas funções durante o processo de investigação, conduzido pelas autoridades competentes. A direção da unidade escolar também está à disposição das alunas e familiares acompanhando de perto o desenrolar dos procedimentos cabíveis para o momento.

Veja a matéria original.